João Cândido Felisberto , também conhecido como " Almirante Negro " (Encruzilhada do Sul, 24 de junho de 1880 – Rio de Janeir...

João Cândido e a Revolta da Chibata



João Cândido Felisberto, também conhecido como "Almirante Negro" (Encruzilhada do Sul, 24 de junho de 1880 – Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1969), foi um militar brasileiro da Marinha de Guerra do Brasil, líder da Revolta da Chibata (1910). Duas décadas após a abolição, algumas instituições brasileiras ainda arrastavam práticas da escravatura. Esse comportamento dos oficiais militares brancos levou a um dos episódios mais heroicos do nosso povo contra a opressão no Brasil, a revolta das chibatas.
 A Marinha, antigamente denominada Armada, praticava o castigo contra negros desde a época do cativeiro quando alguns homens livres ou alforriados entravam (em muitos casos, forçados) para o trabalho.
Abolicionistas conseguiram impedir isso em 1886. Porém o Decreto 328, de outubro de 1890, que substituiu os regimentos coloniais, mas renovava e justificava a necessidade de açoites e prisões em condições desumanas aos subordinados. Nesse contexto nasceu João Cândido, seus pais migraram para a cidade após a abolição. Morou em Porto Alegre até a adolescência. Naquela época, quando a maior parte dos estabelecimentos não pagariam para empregar negros (mesmo os pardos), a maioria era forçada a se alistar. Aos 13 anos de idade ele foi parar no Arsenal de Guerra do Exército e atuou em uma rebelião. Logo após alguns anos foi inspecionado e julgado apto para a Armada no Rio de Janeiro em 1895. A carreira militar representava uma evolução das perspectivas de vidas de qualquer negro



“Eu entrei na Marinha com 14 anos e entrei bisonho. Toda luz que me iluminou, que me ilumina, graças a Deus, que é pouca, foi adquirida, posso dizer, na Marinha”. - Disse Cândido

A vida nos navios não representava a modernização tecnológica que a República estava promovendo na Marinha. As condições sociais eram precárias: soldos injustos, castigos e punições desumanas e uma extravagante desigualdade racial entre marinheiros e superiores As desigualdades eram tratadas como normais. Coisa do trabalho, de pobre, da ocasião. Só que o clima mudou após viagens à Inglaterra. Marinheiros partiam para estudar e desenvolver-se como mecânicos, eletricistas e todo tipo de profissional especializado pro mar. Encontraram um tratamento diferente, principalmente nos castigos físicos e perceberam que era apenas resquício da escravatura brasileira. Também ouviram sobre uma revolta em um navio encouraçado Russo e isso abriu os olhos dos marinheiros negros brasileiros Eles começaram a se mobilizar lá na Inglaterra mesmo, de forma diplomática. Solicitaram aos oficiais o fim da chibata e do tratamento desleal com aqueles que deveriam ser considerados “irmãos” defensores da pátria.
O João Cândido já era um dos líderes, no navio Minas Gerais. O comando geral da revolta também contou com Francisco Dias Martins e Ricardo Freitas, pelo cruzador Bahia; Manoel Gregório do Nascimento, pelo dreadnought São Paulo. Enquanto planejavam uma data a revolta dos marinheiros (como chamada na época) foi antecipada após um dos companheiros ser sentenciado a 250 chibatadas, por carregar cachaça para o navio. Memórias do cativeiro davam a certeza que nenhum homem sobrevivia a tal martírio Os castigos aconteciam em um tipo de cerimonial, com a presença dos oficiais que nunca eram submetidos ao tipo de punição.
Aquele marinheiro, preso pelos pés foi chibatado enquanto os tambores militares tocavam. Ao final todos marcharam e o que sobrou do homem foi à enfermaria. No dia 22 de Novembro a insurreição estourou de forma hermeticamente organizada,



“cada um assumiu seu posto” segundo Cândido,

os oficiais já estavam presos em seus camarotes. Alguns oficiais racistas pagaram com vida. Outros evocaram a hierarquia e a tradição militar para acabar com a revolta. Um deles disse que ” estava pronto para ouvi-los, desde que se portassem como homens dignos da farda que vestiam”.
As duas potentes armas de guerra da marinha estava nas mãos dos marinheiros negros. O encouraçado Deodoro e Minas Gerais. Eles passaram a patrulhar a baía de Guanabara, agitando outras embarcações para a revolta e ameaçaram bombardear o RJ até o fim dos castigos Jornalistas internacionais declaravam que aqueles eram os melhores marinheiros do mundo e que nunca viram a articulação dos encouraçados para o combate como aquela que acontecia pelas mãos dos marinheiros brasileiros.
Após negociações as chibatas foram oficialmente encerradas e os marinheiros receberam anistia do governo para voltarem ao trabalho. - só que o governo brasileiro odeia perder pra preto, era assim no império, seria também na república.
No dia seguinte mostrou sua face traiçoeira:
O presidente Hermes da Fonseca emitiu um decreto permitindo que a Marinha expulsasse os marinheiros. Era o começo de uma caçada, tinha um objetivo sórdido que fica evidente após explodir uma outra rebelião na Ilha das Cobras, sem ligação com a de João Cândido.
Ele se oferece para ajudar na supressão dessa rebelião, mas além de não aceitar a ajuda a República aprisiona João e mais 17 marinheiros em uma cela com espaço para apenas 4. Dentro havia uma armadilha mortal, a cela sem ventilação estava lavada com cal que foi tomando o ar 3 dias depois, 16 homens estavam mortos. Os que sobraram se encontravam em estado precário.
Os médicos da marinha chamaram de morte por “insolação” em nota oficial. João Cândido estava entre os sobreviventes, insubordinados até a própria morte, foi enviado á um hospício Lá disseram que ele não era louco e devolveram para a Marinha, que o manteve preso até ser julgado e expulso da instituição. Foi morar em uma favela, trabalhando como um humilde vendedor de peixes até os 80 anos. Morreu em 1969, o homem que fez a Marinha evoluir de verdade. 
Mais heroico do que qualquer patrono militar dos tempos da escravidão. 
Essa é a história dos pretos nas instituições militar que até hoje dizem “você não deve ter orgulho de ser negro, somos todos iguais”. Enquanto chamam de heróis nossos carrascos 😞 Mas o povo nunca esquece. Salve o Almirante Negro, João Cândido. ✊🏾 
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